Resumo:
Em suas mais de quatrocentas páginas, a coletânea de textos trata da emergência das secas como problema nacional e de sua formulação simultânea como questão técnica e científica a ser enfrentada pelo Estado, contemplando um recorte temporal que se inicia na segunda metade do século XIX e vai até a segunda metade do XX, do império à ditadura militar, com resquícios e reflexões que rebatem até a atualidade. Na transição dos séculos, parte dos meios técnicos e políticos brasileiros enxergava a instabilidade do regime de chuvas nos chamados sertões do Norte como responsável por um conjunto de mazelas econômicas e sociais que tensionavam a integração do país, em termos físicos e políticos, e atravancavam seu desenvolvimento rumo ao proclamado progresso, às lógicas do mundo capitalista em expansão. Diante do quadro, seria necessário superar as adversidades ocasionadas pelo fenômeno climático, “lutar contra as secas”. Isso resultou em uma série de ações que buscaram compreender e transformar o território, fazendo da semiaridez um campo de conhecimentos e práticas logo institucionalizados no Brasil, depois da criação, pelo governo federal, da Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS, 1909), mais tarde batizada de Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS, 1919) e, desde 1945, Departamento Nacional Contra as Secas (DNOCS). Das inúmeras iniciativas elaboradas antes e a partir da estruturação do órgão, as principais se ocuparam do esquadrinhamento científico dos territórios semiáridos e do desenvolvimento de estudos, planos e obras de intervenção no espaço que fossem capazes de estabilizar os meios de vida e fixar a população sertaneja, majoritariamente pela recomposição florestal e pela dotação de redes de infraestruturas hídricas e viárias.