Resumo:
Caatinga, majoritariamente de clima semiárido, é contemplada com duas estações, a seca e a chuvosa. Na estação seca
todas as espécies primam pela economia de energia. Onde havia folhas agora há espinhos. Répteis e anfíbios somem
quase que totalmente. Não se sabe se hibernam, se apenas se escondem, mas é certo que voltam. A economia de energia
faz dos vegetais seres compactos. Cada gota de água armazenada não pode ser perdida – um espécime grande trabalharia
muito mais nas reações químicas e biológicas para permanecer em tamanha secura. A vegetação da Caatinga encolhe-se,
troca folhas por espinhos e muda de posição para evitar um sol ardente em cima de seu organismo. A fauna apresenta
espécies do tamanho facilitado pela natureza para se movimentar e andar por entre as mais de mil espécies espinhosas
como o xique-xique, o facheiro, o quipá e a coroa-de-frade.
Os profetas da chuva, homens e mulheres guardiões e guardiãs dos sinais da natureza e dos saberes populares, acumulam
um conhecimento secular que caminham em três linhas de percepção: as mudanças na fauna e flora, a posição dos astros no céu e os sonhos. Observam, por exemplo que o pássaro João-de-barro constrói uma nova casa para enfrentar as
chuvas. O mandacaru dá o sinal, quando flora na seca é sinal que a chuva chega no sertão, já denunciava o mestre Luiz
Gonzaga em “Xote das Meninas”. O sinal também é dado quando árvores sangram ou pássaros constroem ninhos mais
resistentes. Os profetas da chuva também fazem a observação de corpos celestes, mudança na posição dos astros, como a
da estrela d’alva e de uma constelação que eles chamam de Arca de Noé, que quando aparece de cabeça para baixo indica
um bom período de chuvas. A manifestação dos sonhos é expressa nas romarias, nas procissões, nos pedidos de chuva e
que com ela venha a fartura inevitável.
Antes das chuvas começarem, os olhos dos bichos e dos homens já reparam em nuvens densas e escuras se aglutinando
no céu. Chove, troca de estação, a rigidez das espécies em estado de alerta acaba. Inicia a grande festa caatingueira,
acontece a explosão de cores em menos de um mês de aguaceiros. A paisagem se transforma, traz a surpresa de um
verde inusitado nas gramíneas, nos arbustos e árvores. A tal da estação chuvosa e com ela as chuvas, muda a paisagem
rapidamente. As plantas renascem e cobrem-se de folhas dando novamente um aspecto verde à vegetação e o que antes
parecia morto e feio cobre-se de vida e beleza. As árvores cobrem-se de folhas e o solo fica forrado de pequenas plantas.
A bicharada sai de todos os lados para se encontrar, reproduzir, tirar alimento novo dos ecossistemas. Os animais que
estavam moqueados nos troncos, se movimentando pouco e fugindo do sol dão as caras. A festa das borboletas cruza
os caminhos. A fauna volta a engordar. Na terra da ararinha-azul, vivem também o sapo-cururu, a asa branca, a cotia, o
gambá, a preá, o veado-catingueiro, o tatupeba e o sagui-do-nordeste, dentre outros tantos.