Consumo residencial de lenha das famílias rurais em vulnerabilidade social no Semiárido Baiano

Abstract

A utilização da lenha nos domicílios brasileiros, para Gioda (2019), está relacionada a três aspectos: poder aquisitivo, disponibilidade e aspectos culturais. Em conformidade, Moraes, Martins e Trigoso (2008) afirmam que este é o principal combustível para muitas famílias de baixa renda, principalmente as residentes da área rural, por estar facilmente disponível para coleta manual e sem a necessidade de incorrerem em gastos financeiros. Quanto aos aspectos culturais, Ramos e Albuquerque (2012) alegam que muitas famílias fazem uso do fogão a lenha por questões de tradição, por gostarem do sabor dos alimentos que são preparados nele e para facilitar o preparo de pratos típicos da culinária local, que levam um tempo maior de cozimento. Por outro lado, Specht (2013) declara em seu estudo que a lenha como combustível doméstico está correlacionada a três principais danos: (i) formação de trilhas e clareiras artificiais e remoção de biomassa florestal devido à extração de madeira nas florestas, quando a lenha é originária de vegetação nativa; (ii) problemas na saúde dos usuários diretos desse combustível, pois o uso da lenha normalmente ocorre em fogões tradicionais e pouco eficientes, que lançam muita fumaça, principalmente quando estão localizados no interior das residências; e (iii) o uso da lenha como combustível doméstico é responsável por uma parte considerável das emissões de gases de efeito estufa. Segundo Gioda (2019), do total de lenha extraída no Brasil, a maior parte é proveniente do Nordeste, devido ao extrativismo vegetal realizado na região da Caatinga, sendo que aproximadamente 80% da lenha retirada deste bioma é utilizada como fonte de energia. Quando não realizada de forma sustentável, respeitando a regeneração da vegetação natural, a extração de lenha se torna umas das principais causas de desmatamento , degradação, alteração do regime das chuvas da região e desertificação do referido bioma (GIODA, 2019), situação que pode se tornar insustentável e irreversível a longo prazo. No Brasil, as estatísticas sobre o consumo de lenha, especificamente para uso doméstico nas áreas rurais de todos os municípios, são difíceis de obter. Ainda, por meio de levantamento bibliográfico, verificou-se que há alta disparidade nas informações existentes sobre o consumo de lenha anual por família de uma região a outra do país. Estudos in loco mostraram variação de 0,7 a 11,5 kg/pessoa/dia (de 0,76 a 12,7 t/domicílio/ano) (VALE et al, 2003; GIODA, 2019; CARVALHO et al., 2014; FRANCELINO et al., 2013; REGUEIRA, 2010; SGARBI, 2013). Nesta perspectiva, este estudo foi desenvolvido por meio de dados coletados a partir da pesquisa de campo direta dos membros responsáveis pelas famílias rurais. Diante desse contexto, o relatório tem por objetivo: (i) identificar as principais características das famílias e de seus respectivos fogões; (ii) identificar a forma de acesso e a procedência da lenha em termos de espécies de árvores; (iii) quantificar o consumo de lenha para o preparo de alimentos em fogões a lenha domiciliares; e (iv) estimar o consumo de lenha diário por domicílio. Para isso, o grupo alvo da pesquisa consiste em famílias residentes em comunidades rurais, em sua maioria classificadas como pobres ou extremamente pobres, localizadas nos municípios da região Semiárida Nordestina, ao norte do estado da Bahia. Por conseguinte, o relatório é constituído, além desta parte introdutória, de mais quatro seções. A segunda seção apresenta o plano amostral empregado, em que se detalha a área de estudo, o tamanho da amostra, o método de seleção das famílias a serem visitadas e os estimadores estatísticos utilizados. Na terceira seção, são expostos os resultados da pesquisa. Na quarta, são exibidos os registros fotográficos dos fogões das famílias entrevistadas para evidenciar a precariedade em que esses se encontram. Por fim, na quinta seção, são apresentadas as considerações finais do estudo.