Resumo:
O semiárido brasileiro é o berço de povos tradicionais que manejam a Caatinga e possuem conhecimentos transmitidos que se somam a cada nova geração. Tais conhecimentos permitem o aproveitamento de água, o manejo de caprinos “pé-duro” (raça crioula resultante de seleção natural), a ampla utilização da flora (alimentação, saúde, ração animal) e o desenvolvimento de variedades adaptadas às necessidades regionais. Ao longo de gerações, os povos da Caatinga desenvolveram sistemas agrícolas tradicionais (SAT) que lhes permitiram conviver com o semiárido. São guardiãs e guardiões do conhecimento sobre o manejo de plantas, de suas propriedades e usos medicinais, sobre a milenar técnica de busca de águas subterrâ- neas com forquilhas (conhecida como hidroestesia) e sobre os sinais da natureza que antecedem as secas prolongadas e as chuvas. Tais SAT são plurais e únicos, pois representam a evolução de comunidades humanas em um relacionamento intrincado com seu território, paisagem cultural ou agrícola ou ambiente biofísico e social mais amplo no qual a resiliência foi desenvolvida e adaptada para lidar com os riscos naturais, novas tecnologias e mudanças nas situações sociais e políticas, de modo a garantir soberania e segurança alimentar. Esse desenvolvimento de conhecimentos, estratégias e processos que permitem manter a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos essenciais se deve a inovação contínua, transferência entre gerações e troca de conhecimentos com outras comunidades. A riqueza e a amplitude do conhecimento e da experiência acumulados na gestão e no uso de recursos constituem um tesouro globalmente significativo, o qual precisa ser promovido e conservado de forma que continue a evoluir em suas características adaptativas e de resiliência.