Inventário participativo da cultura alimentar: Tremembé da Barra do Mundaú

Abstract

O Inventário Participativo da Cultura Alimentar Tremembé da Barra do Mundaú (Itapipoca, Ceará - Brasil), nasce do desejo e dedicação deste povo indígena em reunir conhecimento, refletir, produzir novos olhares e vivenciar mais a fundo a dinâmica de seu patrimônio cultural associado à cultura alimentar e à sociobiodiversidade, buscando fortalecer a mobilização de suas novas gerações para a salvaguarda destes tesouros em risco de extinção cultural e biológica.

O povo Tremembé da Barra do Mundaú está imerso em um processo contemporâneo de retomada territorial e luta na defesa de sua existência material e simbólica. Nesta caminhada, tornou-se uma importante referência no debate da soberania e segurança alimentar e nutricional e sua estreita ligação com a preservação cultural em terras indígenas no Ceará. Sua engajada juventude, articulada através de iniciativas agroecológicas, educacionais e artísticas, está à frente da organização política, práticas espirituais e socioambientais nas aldeias, atuando dentro e fora do território. Outro destaque são os grupos de mulheres, que também irrigam a luta Tremembé da Barra do Mundaú em diversos níveis. Estas e estes jovens têm voz ativa na organização de um calendário de festejos e projetos que envolvem cultura, meio ambiente, arte e comunicação popular, mas que, notadamente, são estruturados pela temática da cultura alimentar, seja pelo viés da produção de alimentos ou da medicina e culinária tradicionais.

Foi assim que, através da relação do Conselho Indígena Tremembé da Barra do Mundaú com a Associação Slow Food do Brasil tornou-se pertinente esta ação dentro do projeto Território e Cultura Alimentar no Ceará. Esta iniciativa é fruto da articulação entre o AKSAAM - Adaptando Conhecimento para a Agricultura Sustentável e o Acesso a Mercados, a UFV - Universidade Federal de Viçosa e ASFB e conta com a parceria e financiamento do FIDA - Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrário. A partir das ações deste projeto foi possível materializar o sonho da comunidade em dar início a este inventário, além de compartilhar com o público, através desta publicação, uma síntese do trabalho.

Dar início, pois consideramos ser este um trabalho que deve permanecer em contínuo processo dentro da terra indígena, com potenciais desdobramentos que acompanham de forma orgânica a animada trajetória de lutas dos Tremembé da Barra do Mundaú. Isto porque, narrativas sobre culturas e patrimônios vivos e dinâmicos podem e devem se tornar um trabalho em constante atualização, que mesclam processos formativos e intercâmbio de saberes, com produção e divulgação de documentação. Deste modo, o presente conteúdo se configura como a síntese de apresentação deste processo em educação patrimonial e, ao mesmo tempo, um guia que dá acesso a um conjunto incontável de saberes e sabores possíveis de serem explorados. Temos, assim, um retrato contemporâneo da cultura alimentar Tremembé da Barra do Mundaú produzido por seus próprios guardiões e guardiãs e alinhado com a linguagem da Política Federal de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial do Brasil, criada e executada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).